19 julho 2012

Fé, família e igreja


Acho um risco colocar nos "lombos da igreja" uma responsabilidade que me parece ter sido delegada à família desde o tempos antigos da lei. É no contexto natural da vida, quando os dilemas e questionamentos de fé realmente surgem, que o ensino sobre quem é Deus e de como Ele se relaciona conosco toma corpo e pode ser experimentado por crianças, jovens e adolescente dentro dos limites da compreensão de cada um.

Um dos riscos que vejo quando despejamos a responsabilidade pela formação da vida de fé das crianças e adolescentes na "igreja" é a despersonalização dessa responsabilidade. Pais e mães, então, podem "descansar" porque a instituição igreja e seus programas educacionais darão conta do recado. Tenho visto muitas famílias fracassarem ao abdicar suas responsabilidades em favor da "igreja".

Outro risco que percebo é que, ao assumir a total responsabilidade quanto à educação religiosa de pais e filhos, a "igreja", através da atuação de seus líderes, pode produzir um processo de infantilização dos membros adultos da comunidade; pais e mães são esvaziados de seu inalienável papel pedagógico e se tornam meros coadjuvantes em um processo educacional que muito provavelmente será pautado pela dependência e submissão emocional aos líderes religiosos.

Por outro lado, acho que, como parte de uma comunidade de fé (E o que é um comunidade de fé, senão um agrupamento de famílias?) todos somos responsáveis uns pelos outros. Isso porque nossos exemplos de vida e a maneira como nos relacionamos com Deus e uns com os outros está efetivamente construindo os referenciais da vida de fé de nosso filhos.

A mim, parece-me razoável compreender a comunidade de fé como cooperadora com a família, mas nunca como responsável pela formação de fé de crianças e adolescentes. Se há uma responsabilidade pedagógica realmente a ser exercida no contexto do Corpo de Cristo, diz respeito à preparar-nos mutuamente para a autonomia e a liberdade em Cristo que advém de um relacionamento sadio com Deus.




Texto extraído e editado a partir de minha participação no fórum de discussão realizado no contexto da disciplina "Pedagogia e Correntes Pedagógicas" tendo como assunto "Vitimização e desigualdades são faces da mesma moeda". Fórum realizado dentro do formato proposta pela EST - Escola Superior de Teologia.

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