12 dezembro 2010

Nossa Identidade em Cristo 5


Filhos de Deus

Sobre o que estamos falando quando usamos a expressão filhos de Deus? Estamos falando de um relacionamento. Quando ouvimos e falamos a expressão filhos de Deus, o que vêm à nossa mente é o que conhecemos a respeito de pais e filhos, os modelos e esquemas de relacionamento que já vimos ou experimentamos.

Mas o que garante que os esquemas de relacionamento entre pai e filho que nós conhecemos sejam aquilo que as Escrituras querem dizer quando usam a expressão filhos de Deus? Parece que ao falar dessa maneira o Espírito Santo desejou fazer comparações, mas nada garante que aquilo que nós conhecemos como sendo uma relação entre pai e filho seja o que Deus deseja que aconteça entre nós e Ele.

Esse engano muitas vezes acaba sendo uma barreira. Porque ao falar de Deus como pai e nos identificarmos como seus filhos, vêm à nossa mente (consciente e subconsciente) uma série de arquétipos, de modelos de relacionamento que podem tornar nossa relação com Deus um desastre.

Assim, alguém que tinha ou tem um pai violento, em sua relação com Deus, sem perceber pode enfatizar alguns dos aspectos do caráter de Deus (como o seu poder) em detrimento de outros (como sua gentileza) e começar a criar um deus à semelhança do seu pai. Quando der conta de si ele poderá estar em lutas com um Deus ameaçador; uma caricatura de Deus.

Então, o ponto de partida para compreender melhor o significado da expressão filhos de Deus talvez seja reconhecer que estamos falando da restauração de um relacionamento. Quando nos referimos aos filhos de Deus estamos falando sobre pessoas que desistiram da desconfiança como um modo de vida (o que leva à solidão e ao sobressalto) e passaram a se relacionar com Deus com uma atitude de confiança em quem Ele é, no que Ele diz e naquilo que Ele faz.


Dito de outra forma, quando falamos de filhos de Deus, estamos nos referindo a pessoas que se relacionam com Deus de tal maneira, confiadamente, que se deixam guiar ou dirigir pelo Espírito de Deus.

14  Todos quantos são dirigidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Rom 8:14

Como acontece isso? Isto é, como alguém deixa de viver na base da desconfiança para viver na base da confiança? Dito de outra forma, como a fé passa a fazer parte da vida de alguém de maneira que a sua relação com Deus é restaurada tornando um relacionamento de Pai e filho?

Examinando as Escrituras e à luz da minha própria experiência, entendo e acredito que a confiança que restaura o relacionamento com o Pai surge como (1) um presente que recebemos de Deus e por meio dos (2) relacionamentos que temos com Ele e com as pessoas.

(1)          Quando entendemos que a confiança que restaura nosso relacionamento com Deus surge como um presente que se recebe do próprio Deus, descobre-se que a fé restauradora não é um recurso natural da alma humana.

8  Devido à Sua bondade é que vocês foram salvos, mediante a confiança em Cristo e até a própria fé em Jesus não vem de vocês mesmos; é uma dádiva de Deus também.. Efs 2:8 BV 

(A)       A fé restauradora, a fé que aproxima você de Deus e restaura seu relacionamento com Ele é instilada de fora para dentro e recebida de dentro para fora.

Nossa natureza humana, envelhecida pelo pecado, não tem na sua despensa um item chamado confiança em Deus; Adão jogou tudo fora no episódio do Jardim. No entanto, embora não haja nem um só pacote de fé, cada ser humano tem, nessa mesma despensa, prateleiras vazias nas quais está escrito com letras bem grandes: “reservado para a fé”.

Normalmente essas prateleiras estão no fundo da despensa da alma do homem natural. Todos ser humano as conhece porque várias vezes na vida (principalmente nos momentos de sofriento e dor) ele corre até essas prateleiras para ver se apareceu ali um pacote de confiança em Deus.

No que diz respeito ao relacionamento com Deus, algo muito impressionante acontece no decorrer da vida: cada vez que alguém corre para as prateleiras da alma em busca da fé capaz de restaurar sua confiança em Deus (isto é, tornar seu relacionamento com ele um relacionamento entre pai e filho), mas volta sem encontrar nada, sai da despensa frustrado e dizendo para si mesmo que não vale a pena tentar confiar em Deus.

Então, embora cada vez que se sinta cansado e sobrecarregado com a vida ele lembre da despensa da sua alma e das prateleiras onde está escrito “reservado para a fé”, vem logo à sua memória também o fato de que ele já tentou encontrar algo naquelas prateleiras, mas só achou o vazio dentro de si.

Assim, quanto mais ele recorrer a essas prateleiras vazias, mais frustrado e decepcionado com Deus ele se tornará. As muitas viagens para dentro da despensa vazia da sua alma nunca resultarão na restauração do seu relacionamento com Deus. Ao invés disso o tornará amargo, resentido e ainda mais desconfiado.

Veja que grande desserviço os profetas da auto-ajuda prestam ao encorajar as pessoas a buscar dentro de si as respostas para as inquietações de suas almas cansadas. Acabam provocando um afastamento entre Deus e o homem.

Veja que grande desserviço você faz à vida de uma pessoa quando em vez de conduzi-la a Deus você a inicia nos ritos religiosos, nas tradições ou a torna dependente de uma outra pessoa (seja ela pastor, padre, pai de santo, filósofo, profeta, ou um chefe de família.

Eu acredito que o ser humano foi criado para viver uma vida de confiança em Deus, mas para que a confiança se torne um modo de vida é preciso reconhecer que sua despensa está vazia e receber de Deus pacotes cheios de sementes de confiança.

Veja que a iniciativa tem sido dele desde sempre. O tempo todo Ele oferece esses pacotes para encher o vazio das nossas despensas; Veja também que a iniciativa é Dele, mas a resposta é nossa.

Ele tem tentado suprir sua despensa vazia o tempo todo. E como Ele tem feito isso? Deus tem cercado você com Seu amor para que a confiança encontre o lugar preparado para ela em sua mente e em seu coração; e assim transforme o seu modo de vida.

1  SENHOR, TU EXAMINASTE a fundo a minha alma e conheces todas as coisas a meu respeito. 2  Tu sabes o que acontece comigo quando estou descansando ou quando estou caminhando. Tu conheces de longe cada um dos meus pensamentos. 3  Tu examinas cuidadosamente todos os meus passos e observas com atenção o meu sono; sim, Tu conheces muito bem tudo o que eu faço. 4  Tu sabes tudo o que eu vou dizer antes da palavra ser formada em minha boca. 5  Tu estás à minha frente e atrás de mim ao mesmo tempo, e me guias e abençoas com a tua mão. 6  Saber isso é algo tão maravilhoso que eu nem consigo compreender! Slm 139:1-6 

O amor de Deus pode ser visto no dom da vida e no seu cuidado em sustentar a vida. Também a criação aponta para Deus e revela o seu amor. Mas a maior expressão desse amor foi o fato de que em Jesus Cristo, Deus se fez gente e entregou-se a si mesmo por nós. O preço que deveríamos pagar por nossa vida de desconfiança e consequente desobediência, Ele mesmo assumiu e pagou ao entregar-se na Cruz.

Então, quando falamos de filhos de Deus estamos falando de pessoas que:

(1)          Reconheceram que não se relacionavam com Deus como fazem um filho e um pai;

(2)        Admitiram não serem capazes de fazer qualquer coisa a respeito desse vazio de confiança (incredulidade) na despensa de suas alma;

(3)        Arrependeram-se do caminho por onde estavam indo para longe de Deus;

(4)        Reconheceram o amor Deus demonstrado através da vida, morte e ressurreição de Cristo;

(5)        Renderam-se a esse amor, isto é, deixaram-se amar incodicionamente por Deus, como um filho se deixa amar por seu pai.

Todos que recebem o amor de Deus (isto é, que se deixam amar por Ele) recebem também o poder de viver com Ele um relacionamento entre pai e filho (mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus).

·       Deixar-se amar por Ele é aceitar que, por causa de Cristo, Deus considera você uma pessoa justa, mesmo quando você sabe que não é justo;

·       Deixar-se amar por Deus é aceitar que, por causa de Cristo, Ele não aceita acusações contra você, mesmo você sabendo que essas acusações são verdadeiras.

·       Deixar-se amar por Deus é não procurar em você um motivo que justifique esse amor, mas declarar-se devedor porque foi você foi amado sem motivos.

Quando alguém experimenta o amor de Deus, demonstrado em Cristo Jesus, recebe Dele pacotes com sementes de confiança. Essas sementes devem ser guardadas na despensa de sua alma, porque servirão de suprimento para os dias maus.

Portanto, os filhos de Deus, aqueles que tiveram seu relacionamento com Deus restaurado, porque se deixaram amar por Deus, têm um recurso que antes eles não tinham. Sua despensa não mais está vazia; agora está cheia desse presente dado por Deus: sementes de confiança.

Agora, nos momentos em que a vida for injusta e desleal, quando a dor e o sofrimento baterem à porta, quando as dúvidas assolarem o coração, os filhos de Deus podem olhar para cruz, relembrar o amor de Deus e buscar na despensa de suas almas as sementes de confiança que receberam ao se deixarem amar pelo Pai através de Jesus.É por isso que as escrituras dizem que o justo viverá pela fé (Rom 3:26 cit. Hab 2:4)

Pergunto: qual tem sido o seu alimento? De que a sua despensa está cheia? Sementes de auto-ajuda, de humanismo, de descrença, de poder, de conhecimento, ou as preciosas sementes da fé?

Conclusão

Estamos refletindo sobre nossa nova identidade em Cristo, algo que recebemos de Deus por sua Graça e Misericórdia. Estamos falando de transformações profundas que Deus deseja e é capaz de fazer na vida de qualquer pessoa.

Em Cristo Jesus o seu relacionamento com Deus pode ser transformado. O seu modo de vida desconfiado e inseguro pode ser transformado em uma vida com base na fé em Deus.

Começa com essa iniciativa do amor que Deus revelado na criação, e que foi plenamente demonstrado na cruz. Portanto é algo que vem de fora para dentro (isto é, não surge de despensas vazias) e que aguarda de cada ser humano uma resposta de aceitação ou rejeição (isto é, algo que vai de dentro para fora).

Ao se deixar amar por Deus, você verá seu relacionamento com Ele se tornar como o relacionamento entre um pai de filho. Você experimentará a presença desse amor no seu dia-a-dia e poderá dar passos de confiança cada vez maiores.

Você será feito (isto é, será considerado) filho de Deus. Essa é uma transação que ocorre no mundo espiritual com implicações eternas. Os autores do novo testamento, tentando explicar esse fenômeno, falaram que os filhos de Deus são aqueles que foram adotados por Ele.

Deus ama toda a sua criação porque o amor é a Sua essência (Deus é amor cf 1Jo 4:8); mas aqueles que recebem esse amor de livre vontade, que se deixam amar por Ele, são adotados por Deus. Deus põe neles o seu sobrenome e eles são chamados filhos de Deus.

Outra coisa importante é que aqueles que se deixam amar por Deus descobre que os arquétipos (modelos) de relacionamento entre pai e filho que conhecemos são falhos e frágeis. Então eles encontram nesse novo relacionamento com Deus novos referenciais de pai e de filho e se tornam capazes tanto de perdoar como de pedir perdão.

Veja que coisa maravilhosa: Em Cristo Jesus Deus planejou tudo para restaurar o seu relacionamento com Ele e assim receber você como Seu filho.

Se você um dia tomou a decisão de se deixar amar por Deus, viva intensamente sua nova identidade; não volte atrás. Não fale com ele como um estranho, não fale dele como um desconhecido, mas aproxime-se de Deus como um filho se aninha no colo do pai e aprenda a viver sua nova identidade em Cristo: filho de Deus.

Se o que você ouviu hoje é novidade para você, saiba que vale a pena receber o amor de Deus demonstrado em Cristo Jesus por sua morte na cruz. Deixar-se amar por Ele é a experiência mais libertadora que alguém pode viver. Ser chamado filho de Deus é ter a certeza de que você pode contar com Ele para torná-lo a pessoa que Ele planejou que você fosse.

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